Camadas de invenção

Início.
Desmedida da coluna
O polegar aponta
O norte está no cóccix
As veias se confundem

Falo
Mordo
Lato

O norte se inverteu
O polegar sumiu

A pele discretamente guarda
A pele discretamente anda
A pele discretamente corre
A pele discretamente diz: “dorô”?
A pele discretamente ouve
A pele discretamente sussurra
A pele discretamente tem saudades
A pele discretamente se lambuza
A pele discretamente responde: “dorei”.

O norte fugiu
O polegar frustrou o para cima
As veias se estapearam

Grito
Grito pedra
Grito solto
Grito aqui.

Invenção 1: farejar: “A curiosidade vem das entranhas”.
Invenção 2: achar e sumir: ” Embaralhei minhas direções”
Invenção 3: ser foco e ser rastro: “Esse piano tem 52 possibilidades de pausas e de gritos”
Invenção 4: ventilar o material: “dançar a neve caindo” e “Era uma vez um homem que gostava de mexer suas ancas e que perguntava para os detalhes: dorô”?
Invenção 5: encontro de biografias: “Esse nada que eu fui sou eu inteiro”.
Invenção 6: chegar no vazio: “Eu me equilibro entre o tombo e o salto”.

Minha pele discretamente diz: é agora.

É agora. É aqui que o instante é construído/habitado. É bem aqui que subvertemos juntos as hierarquias do espaço, do tempo, do corpo. É bem aqui que o tempo se arredonda, que o espaço é Niemeyer com ladeiras de Minas, que o espaço não se conclui, não se cabe, não se mede. Não se mede a desmedida do espaço. Não se mede a desmedida do tempo/curva.
É no aqui que lançamos as pedras e o jogo começa. Capturamos potências e decadências do instante. Somos farejadores, detetives, arqueólogos à procura de impulsos, interrupções, curiosidades, matérias-primas no corpo e no rastro de outro corpo-matéria-objeto-imagem-espaço-movimento-palavra.
Fim.

[Kenia Dias]

* Todas as frases citadas são anotações de improvisos realizados por mim e Francis Wilker.

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